Depoimento revela o que aconteceu momentos antes de Juliana Marins cair em trilha de vulcão

A brasileira Juliana Marins, que perdeu a vida após despencar de um penhasco de uma trilha na Indonésia, teria sido deixada sozinha quando o guia que a acompanhava se afastou para fumar, conforme relatou o pai da jovem ao programa Fantástico, neste domingo (29/6). O laudo oficial, divulgado dois dias antes, apontou que a causa da morte foi um trauma contundente, que comprometeu órgãos internos e provocou hemorragia.
De acordo com Manoel Marins, pai de Juliana, o guia relatou que a filha havia dito estar cansada durante a trilha. “Juliana falou para o guia que estava cansada e o guia falou: ‘senta aqui, fica sentada’. E o guia nos disse que ele se afastou por 5 a 10 minutos para fumar. Para fumar! Quando voltou, não avistou mais Juliana. Isso foi por volta de 4h. Ele só a avistou novamente às 6h08min, quando gravou o vídeo e o enviou ao chefe dele”, contou o pai. Ao todo, considerando a caminhada e o tempo fumando, o guia ficou de 40 a 50 minutos longe da jovem.
Nesse vídeo gravado pelo guia, é possível ver uma luz que era da lanterna no capacete usado por Juliana. Foi nesse momento que o guia a localizou e acionou a chefia para que o socorro fosse enviado ao local.
Segundo Manoel, em um primeiro momento não foi acionada a Defesa Civil, e sim uma equipe de primeiros socorros do parque onde fica o vulcão. O pai de Juliana disse que eles tinham apenas uma corda, sem outros materiais necessários para a descida. “No desespero, o guia amarrou a corda na cintura e tentou descer sem ancoragem”, relatou. Nesse primeiro momento, Juliana estava a cerca de 200 metros da ilha – o local exato foi confirmado por imagens de drone feitas por turistas.
A resposta das autoridades locais, segundo a família, também foi lenta. O parque acionou a equipe de primeiros socorros apenas às 8h30, que só chegou ao ponto onde Juliana caiu às 14h. Já a Defesa Civil da Indonésia, segundo os familiares, foi acionada posteriormente e teria alcançado o local somente às 19h. É uma caminhada de pelo menos 6 horas até o ponto do acidente. Condições de tempo ruim complicaram o trabalho do resgate.
Para o pai da jovem, houve falhas graves em vários níveis. “Os culpados, no meu entendimento, é o guia, que deixou Juliana sozinha para fumar, 40 ou 50 minutos, tirou os olhos dela. A empresa que vende os passeios, porque esses passeios são vendidos em banquinha como sendo trilhas fáceis de fazer. Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil”, afirmou.
No final, o corpo de Juliana foi resgatado por uma equipe repleta de voluntários, que chegaram a dormir pendurados no penhasco para conseguir alcançar a jovem – ela já estava a cerca de 600 metros da trilha. Segundo o pai, quando foi registrada novamente por drones, na segunda (23), dessa vez “aparentemente imóvel”, Juliana já estava morta.
A equipe do Fantástico buscou contato com diversas autoridades indonésias, incluindo polícia, direção do parque, governo local, Ministério do Turismo, Ministério das Florestas, Ministério das Relações Exteriores e Presidência da Indonésia, mas não obteve retorno.
Relembre
Juliana era formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e também era praticante de pole dance. Desde fevereiro, ela viajava pela Ásia como mochileira, tendo visitado Filipinas, Vietnã e Tailândia antes de chegar à Indonésia.
A Prefeitura de Niterói, cidade natal da jovem, assumiu os custos do translado do corpo para o Brasil. O anúncio foi feito na quarta-feira (25). Em publicação nas redes sociais, o prefeito Rodrigo Neves disse ter conversado com a irmã da vítima e confirmou o apoio à família. “Conversei com Mariana, irmã de Juliana, e reafirmei o compromisso da prefeitura de Niterói com o translado da jovem para nossa cidade, onde será velada e sepultada. Que Deus conforte o coração da linda família de Juliana e de todos os seus amigos e amigas”, escreveu.
O velório e sepultamento acontecerão em Niterói, mas a data ainda não foi definida, já que o corpo ainda está nos trâmites para sair de Bali. A cidade decretou luto oficial de três dias na terça-feira (24) e informou que fará uma homenagem à jovem.
Juliana caiu do penhasco no dia 21 de junho, durante uma trilha no Monte Rinjani. A confirmação de sua morte veio na terça-feira seguinte, após quatro dias de buscas em uma região de difícil acesso, marcada por neblina e terreno instável. O corpo foi resgatado no dia 25.
