Tem dificuldades para falar sobre drogas com os filhos? Especialista conta como orientar

Desligar a TV não é a solução: o problema das drogas vai além dos noticiários e dos personagens de novelas. Ele está presente na vida de todos, seja por um conhecido que tenta se livrar do vício ou pelo medo de que um ente querido se transforme em usuário. Por isso, é imprescindível que os pais conversem com os filhos sobre o assunto sem ter medo de potenciais constrangimentos ou de causar ainda mais curiosidade quanto ao prazer que essas substâncias podem proporcionar.

Para o psicólogo Paulo Tessarioli, o mais importante é criar um canal de comunicaçãocom as crianças desde o início de sua criação. “Com a internet, desde muito novas as crianças têm o mundo na palma das mãos. Isso faz com que, se os pais não orientarem, os filhos tenham mais dificuldade em aprender as noções de limites”, diz.

Papo sério, mas sem ser chato

O profissional destaca, contudo, que essa orientação deve ser equilibrada e não cair nas armadilhas de parecer autoritária ou descontraída demais. “Os pais devem se colocar próximos dos filhos, mas sem comprometer a hierarquia. Amigos são dispensáveis, mas os pais são necessários até o fim da vida”, explica. É extremamente importante que, desde pequenos, os filhos entendam que os pais têm interesse na vida deles e estão abertos a ouvi-los.

Para falar sobre drogas, assim como sobre sexo, é preciso já ter espaço e intimidade para o diálogo, algo que deve ser conquistado aos poucos. Em todo caso, se os pais não sentem essa conexão com as crianças podem dividir a missão com alguém que tenha essa proximidade, como os avós. “Se o filho não tem o costume de contar sobre a sua vida para os pais, não se sentirá à vontade para conversar sobre qualquer assunto”. Ou seja, sem intimidade entre os pais e os filhos, a conversa pode tomar um ar formal e não ter o efeito desejado.

Direcione a conversa e vá além dela

É necessário alertar crianças e adolescentes sobre influências externas no momento de experimentar ou não drogas lícitas e ilícitas, mas esse não é o único caminho que o discurso deve tomar. “Culpar as influências é muito óbvio, mas nem sempre certo. Se fosse assim, quase todo mundo seria usuário de drogas”, afirma Tessarioli.

Para enriquecer a conversa, é possível falar das conseqüências do uso de drogas, como a dependência, os problemas de saúde e até a perigosa convivência com traficantes. Lembre-se sempre de estar atento às perguntas e argumentos do seu filho, que podem ser mais direcionados, dependendo da idade dele.  

O papo e a orientação são de grande importância, mas são ainda mais efetivos quando os pais ficam atentos à vulnerabilidade e aos problemas emocionais dos familiares.

O psicólogo destaca que poucas são as pessoas que apreciam as drogas de primeira. “O gosto em si da droga é ruim. A pessoa que usa pode ser para superar algum problema emocional maior do que o gosto ou sensação ruins”, defende. Ainda de acordo com ele, em boa parte dos casos, a iniciativa do consumo parte da própria pessoa, que recorre às drogas para superar a falta de habilidade em se socializar.

Dessa forma, para os pais, além de criar um canal de diálogo desde cedo, cabe evitar atitudes que possam acarretar em problemas emocionais, por exemplo pensando muito bem se está mesmo na hora de ter filhos. “O amor aos filhos é algo recente. Antigamente os filhos serviam para mostrar a ‘consistência’ do casal, assim como hoje em dia têm passado a serem vistos como bens de consumo, o próximo item da lista para uma vida feliz. O que acontece é que, muitas vezes, os pais não sabem criar os filhos, porque não sabem amá-los. Isso podeterminar em negligência.”

 

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