Confira a entrevista exclusiva de Olívia Santana
Maria Olívia Santana é uma militante histórica das causas negras. Ela nasceu em Salvador no dia 25 de março de 1967, na comunidade do Alto de Ondina. Possui formação em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) atuou como vereadora (PCdoB) durante dois mandados, já trabalhou como secretária de educação da cidade de Salvador e integra o Fórum das Mulheres Negras e o Conselho de Promoção da Igualdade Racial. Atualmente é chefe de Gabinete da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia.
Olívia Santana concedeu uma entrevista exclusiva ao Berimbau Notícias, o site do Bem, onde fala sobre a importância do estudo nas escolas da História e Cultura Afro-Brasileira, além da valorização e respeito a diversidade étnica e sexual .
Berimbau Notícias- Qual a importância de colocar em prática os estudos da cultura negra, africana em sala de aula?
Olívia Santana– É muito importante, porque significa valorizar a história dos alunos que estão em sala de aula, é valorizar a história do povo brasileiro, pois o negro é 57% da população, segundo dados do IBGE de 2010. Então não é possível que a escola não consiga incorporar , a história positiva, o protagonismo da população negra, entendendo a grande contribuição dada pelo negro no desenvolvimento do Brasil.
BN- A escravidão, que teve início no século XVI no Brasil, foi uma das principais formas de exploração do trabalho do negro, não é verdade?
Olívia– Com certeza, pois a primeira contribuição do negro para o Brasil foi o trabalho, através da força de trabalho negra que esse país construiu e acumulou riquezas. Nos canaviais, nas minas de ouro, de prata, tudo isso virou dinheiro para se financiar o desenvolvimento do país. A troco das vidas de milhares de negros que vieram para aqui, para serem escravizados.
BN- Existem grandes nomes de personalidades negras, que são importantes, mas que nós desconhecemos por não serem trabalhadas em sala de aula?
Olívia– Nós precisamos falar mais de como personalidades negras marcaram a nossa história, temos Teodoro Sampaio, que foi um urbanista importantíssimo para o Brasil. Todo o sistema hidráulico da cidade de São Paulo contou com a participação e a inteligência dele, tem também André Rebouças que foi o maior engenheiro que esse país já conheceu. É preciso que isso vire conteúdo de aula, existe uma grande história negra que as pessoas não conhecem. Agente não pode falar só do escravo, da bola de ferro na perna e do navio negreiro. Agente tem que contar também a história positiva, das Rainhas de Angola, da Nigéria e de Guiné.
BN- Então em grande parte das escolas a história negativa é valorizada, enquanto a positiva é esquecida e pouco explorada?
Olívia– O negro é mostrado como se não tivesse uma identidade também positiva, porque quando agente só conta o problema, as sequelas e as mazelas, você rebaixa a auto estima do povo.
BN- Essa valorização da cultura negra nas escolas é importante para que as crianças aprendam mais sobre parte da história que foi desprezada durante anos e passem a se reconhecer enquanto negras?
Olívia– Com certeza, pois se os meninos estão em sala de aula eles precisam ter referenciais positivos, se não eles vão fazer o quê? Vão se identificar como derrotados? Como os vencidos? Agente tem que dar muita atenção a isso, porque essa falta de qualificar a presença negra na formação do povo brasileiro, que faz com que muitos se sintam inferiorizados e acabem tomando outros caminhos.
BN- E além da diversidade racial, você acha que é importante também se trabalhar a diversidade sexual?
Exatamente, pois odiar homossexuais, querer que a pessoa que é homessexual se enquadre em um padrão que não é o dela também não traz a felicidade de ninguém. É preciso respeitar a liberdade, a dignidade da pessoa humana, a escola tem que se abrir sem ficar com esse julgamento que exclui. Agente não tem o direito de ficar julgando a orientação sexual das outras pessoas. Porque até a constituição assegura o direito de liberdade á todas as pessoas.
E o que você achou da exibição do primeiro beijo gay na televisão brasileira, na novela Amor á vida, da rede globo?
Eu acho que educa, é uma ação educativa e de muita coragem do autor da novela de incorporar isso a novela, pois a própria população já pedia que aquele beijo acontecesse, bastava ver nas redes sociais todas as manifestações nesse sentido. Então eu acredito que na adianta agente continuar negando aquilo que está aí, que está acontecendo, nós estamos em pleno século XXI. O que não é bacana é o desrespeito, o vandalismo, as práticas de violência, pois se pode aparecer na televisão um homem tirando a vida de uma pessoa, uma mulher esfaqueando alguém, porquê que não pode aparecer uma cena de um beijo entre dois homens. Eu defendo aquele lema : qualquer forma de amor é válida, o que não vale a pena é o ódio.