Fofoca no trabalho interfere no clima e pode gerar até uma demissão; saiba como evitar

“Você já está sabendo?”. Atire a primeira pedra quem nunca foi interrogado com essa expressão no trabalho. Por mais inofensiva que pareça, a pergunta pode ser apenas o início de um problema comum nos ambientes corporativos: a fofoca. 

Independentemente de ter ou não fundamento, quase ninguém consegue ficar imune ao  “disse me disse” que gera conflito entre funcionários, arruína reputações e, a depender do caso, acaba em demissão.

Especialistas acreditam que o ideal é aprender a lidar com a situação e não deixar que ela atrapalhe o clima e o desempenho profissional.

Por mais íntimo que seja o nome, fofoca é sempre um ato negativo. Essa é a opinião da diretora de Integração do Nordeste da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Eugênia Ávila. “É aquele ato de descobrir algo e passar para outras pessoas”.

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Segundo ela, apesar do fuxico nem sempre ter um fundo de verdade, ele sempre é permissivo no ambiente de trabalho, além de ser uma das coisas que mais atrapalham o clima corporativo. “Gera desarmonia, mina relações de confiança, prejudica a produtividade, o trabalho em equipe".

Mesmo tendo a consciência de que é impossível evitar a  “rádio corredor”, principalmente em tempos de WhatsApp, Eugênia afirma que dá para reduzir a frequência ou amenizar as consequências. “A fofoca tem a ver com os valores de cada um, mas um líder atento e presente é capaz de intervir”.

Para ela, que  também é gerente de RH do Laboratório Leme – primeira organização no ranking das Melhores Empresas para Trabalhar na Bahia do Instituto Great Place To Work (GPTW) -, uma comunicação clara entre gestores e funcionários contribui  para evitar ruídos, pelo menos nos assuntos corporativos. “Uma relação transparente não dá brechas”.

Justificativas

Pode ser até uma “desculpa esfarrapada”, mas um dos motivos que justificam a intensa frequência da fofoca nas empresas é cultural, segundo o escritor, conferencista e coach Aldo Novak.

“Quando falamos mal do clima, dos políticos, do trânsito ou da criminalidade, estamos apenas usando isso como uma espécie de ‘cola’ social, para batermos papo e interagirmos com as outras pessoas. Então, falar mal de alguém que é próximo se torna apenas uma extensão dessa cultura de falar mal”. A segunda razão é muito mais danosa, alerta ele.

“A fofoca costuma ser usada como uma arma de poder, escondendo boatos e calúnias que possam ajudar as ‘agendas secretas’ de grupos de funcionários da empresa contra outros grupos ou pessoas”.

Ele informa que uma pesquisa feita nos EUA constatou que para cada funcionário, registrado ou não, a organização tem uma média de 65 horas por ano desperdiçadas unicamente com fofocas.

“Uma empresa só precisa saber quanto seu funcionário custa por hora e multiplicar isso por 65 e saberá quanto joga no lixo, anualmente, apenas com a fofoca”. E detalhe: essa conta não inclui as consequências nefastas dos boatos e fofocas.

A estudante de enfermagem Claudiane Bonfim, 27 anos, sabe bem o que é isso. Ela conta que, por conta de uma fofoca sem fundamento, precisou pedir ajuda da polícia por medo das possíveis consequências.

Segundo ela, tudo começou quando uma colega de trabalho inventou que ela “dedurava” outras funcionárias para o supervisor.

“No início, não liguei muito, achava que era inveja por eu ser uma boa funcionária. Mas a coisa ficou séria e cheguei a ser ameaçada com coisas do tipo: ‘você não perde por esperar’”, relata, informando que o fato ocorreu em 2012, em uma empresa de telemarketing em Salvador.  

Claudiane diz que a situação, que gerou um péssimo clima entre ela e outras colegas de equipe, demorou  três meses e resultou na demissão da autora da intriga. “Primeiro, falei com ela, mas não resolveu. Depois falei com o meu supervisor. Ela foi advertida e ainda assim continuou. Foi aí que decidi levar o caso à coordenação e registrar um boletim na polícia”.

Mesmo sendo a vítima, ela revela que a situação serviu de lição. “A gente precisa, acima de tudo, respeitar as pessoas e as diferentes opiniões. Hoje, me mantenho neutra. Não dou opinião alguma sobre ninguém”, diz  ela, que atualmente trabalha em outra empresa.

E engana-se em pensa que fofoca é coisa de mulher. De acordo com Aldo Novak, os homens fofocam tanto ou até mais que as mulheres. “O que muda é o tipo. No caso dos homens, é mais disfarçada. Mas nós somos tão fofoqueiros quanto as mulheres”.

‘Rádio-corredor’ é sinal de falha de  comunicação

Por melhor que seja a empresa, não há como deixar o ambiente livre de fofocas. Mas estudos mostram que, quanto melhor for esse clima organizacional (com valorização e respeito dos funcionários), menor a predisposição para os comentários maldosos.

Dados extraídos da primeira pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar na Bahia, do GPTW, revelam que 69% dos funcionários entrevistados nas cinco empresas ganhadoras afirmaram evitar a ‘politicagem’ e intrigas como forma de obter resultados.

O responsável pelo conteúdo do GPTW Brasil, Bruno Mendonça, diz que em qualquer ambiente coletivo é natural que as pessoas se conheçam, criem empatias, intimidades e laços de coleguismo e amizade.

“As conversas em si não são um problema. Tornam-se quando as opiniões, ideias e sugestões que surgem sobre o trabalho e sobre a empresa ficam restritas apenas aos corredores”. E se isso acontece pode ser um sinal de que há algo falho na comunicação da organização.

“As informações não  estão sendo claras, os funcionários não estão sendo ouvidos. Isso tudo dá margem para especulações e intrigas, prejudiciais para o clima e para os resultados da organização”, complementa.

Dicas para não queimar o filme com a fofoca

1 Evite se envolver. Como não dá para controlar o que os colegas de trabalho falam, a dica é evitar se envolver. E isso vale, principalmente, na hora de dissiminar informações. Lembre-se que temos dois ouvidos e uma boca.

2 Filtre as informações. Por mais verdade que pareça, lembre-se que nem tudo o que parece de fato é. Portanto, nada de sair por aí acreditando em qualquer coisa que é dita só porque faz sentido. Nessa hora é bom agir com a razão.

3 Escolha certa. Caso precise desabafar algum problema seu, escolha uma pessoa em quem você confia, bem como o local e o horário adequados. Dessa forma, evitará, inclusive, o conhecido telefone sem fio.

4 Não se comprometa. Quando for questionado sobre determinado boato, esquive-se educadamente. Se a pessoa insistir, diga que comentários não são bons para a reputação de ninguém e mude de assunto.

5 Não quebre a confiança. Se por razão do cargo ou do convívio você ficou sabendo de algum boato relacionado a alguém da empresa ou até mesmo alguma informação privilegiada, não conte para ninguém. 

6 Transparência sempre. Se você for o foco do boato, não se deixe abalar. A melhor maneira para acabar com isso é expor a situação. Converse diretamente com o mexeriqueiro, seja firme e transparente.

 

Publicada no dia 11 de dezembro, às 16h26

 

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